17 de jun. de 2015

Livros e professores: uma paixão antiga

Minha paixão por livros começou há muito tempo. Desde os tempos de infância. Não porque na minha casa havia uma grande biblioteca ou porque meus pais tinham sempre um livro na cabeceira. Não. Ao contrário, esse era um objeto raro em minha casa, mas por isso mesmo tão desejado.
Quando saiamos de férias gostava de ir a biblioteca da cidadezinha onde tinhamos uma casa de veraneio. A bibliotecaria sempre me elogiava : "Tão novinha e já gosta de ler. Que beleza!". As vezes, devorava um livro e já voltava no mesmo dia para pegar outro emprestado.

Quando jovem amava ir à  biblioteca. Passava meus olhos, lentamente, sobre as prateleiras, observando os livros de cada escritor (classificados por país). Para mim, era como viajar: Patricia Highsmith, Herman HessesHenrik Ibsen, Machado de Assis...

Resolvi estudar Letras, apesar de muitos tentarem me dissuadir: "Você vai virar hippie e ficar pobre!". Mas queria tanto que acabei entrando na Faculdade de Letras da UFMG. Não porque sonhava em ser professora. Não creio que tinha um dom inato para isso. Mas, porque queria ler e compreender o quê havia lido. Viajar no mundo dos livros. Descobri um universo maravilhoso, professores que me deram as ferramentas para poder interpretar cada linha, cada frase, cada palavra, cada personagem...

Porém, decidi mudar meu caminho. Não porque perdi o gosto pelos livros. Mas, porque a maioria das pessoas , principalmente o governo, não valorizam a cultura, a literatura, a educação. Ser professor hoje em dia é sacerdócio mal pago. Quem dera se nossos professores fossem stars como na Coréia do Sul por exemplo. Para quem lê em francês, indico esse artigo que ilustra bem esse status privilegiado dos professores sul coreanos:

 http://etudiant.lefigaro.fr/international/actu/detail/article/coree-du-sud-des-profs-stars-et-millionnaires-grace-a-web-10378/

Quem dera em outros países os professores fossem tratados dessa forma! O mundo estaria muitro melhor, creio eu. Porém , infelizmente,  a massa prefere exaltar artistas sem cérebros praticamente despidos...



5 de abr. de 2015

Divergências de opinião...

Eles se encontraram numa tarde de primavera no Jardim de Luxemburgo e decidiram caminhar juntos...

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Ele era bonito, culto e estava interessado nela...
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Ele a convidou para sair para jantar e ela topou

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Depois de um momento agradável no restaraunte e um beijinho roubado, saíram de mãos dadas caminhando pelas ruas do quartier Latin. Tudo estava tão lindo e perfeito que ela pensou que mesmo o impossível era possível e que os unicórnios existiam!!!!!
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Pelo caminho conversavam sobre o que curtiam em cada cultura. Ele então começou um debate fervoroso sobre a superioridade da música francesa em relação a música brasileira. Ela então desceu dos seus Luboutins e
rodou a bahiana. Oque??????
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Escuta aqui seu francês de @#$%@ ! Você pode até achar ter uma superioridade em relação ao vinho, culinária, escultura, pintura e o escambau! Mas, vir falar do Chico, Caetano, Gil entre outros, é como xingar minha mãe!
Ela então ela botou o cara para correr ...

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e preferiu terminar a noite sozinha (mas em ótima companhia), escutando Vinicius de Moraes: "É melhor ser alegre que ser triste"(...
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Boa noite pessoal!!!!

2 de abr. de 2015

Mudar para Paris

Quando deixei meu país, minha família, meus amigos para vir morar na Cidade Luz, estava certa de que era isso o que eu queria. Apesar de saber que não seria fácil recomeçar minha vida num país estrangeiro, tinha certeza que essa decisão me permitiria de crescer, de fazer várias coisas que nunca faria no Brasil, aprender a me virar sozinha, pensar de uma outra forma, aspirar por tudo o que eu quisesse e que não tivesse sido definido pelo meu meio. Em busca de construir o meu próprio destino para cá vim...

Meu irmão, com o ar convincente, contava que esse era o meu sonho desde criança. Segundo ele,  quando brincavamos de Barbie - sim meninos também brincam de boneca (quando a irmã consegue ser bem convincente), risos!-  eu dizia que iria morar um dia em Paris. Não me lembro de ter sonhado desde pequena em viver por aqui... Mas, sei que rodeada e oprimida pelas montanhas de Minas, sentia que a minha cidade era pequena demais para mim. Acho que foi e talvez seja isso: a decisão de morar fora chega quando temos outras expectativas e que sabemos que outras oportunidades nos aguardam além de nosso "habitat natural", fora da nossa zona de conforto...



Alguns expatriados que conheço chegaram aqui na França e logo se sentiram em casa, adaptaram-se rapidamente, se deram bem (são aqueles que como dizemos "nasceram com o bumbum voltado para a Lua!"). Outros apesar de estarem aqui há muito tempo não se acostumam com o frio, com o mal humor das pessoas, com a dificuldade de trilharem seus caminhos. Estes sentem saudades de casa, vivem como pássaros num viveiro recitando a Canção do exílio:

Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores (...)
(Goncalves Dias)

Algo é certo ninguém é obrigado a ficar. Muitos apesar de saudosos ficam por amor a essa cidade, pela culinária, cultura... Enfim, seja para voltar um dia para a terrinha ou para ficar aqui de vez, uma coisa é certa: você nunca será a mesma pessoa. Na minha opinião, será uma pessoa melhor, pois terá vivido experiências diferentes, colocado-se em situações onde não poderia contar com ninguém além de si-mesmo.

Acho que o principal passo para que você se adapte em outra cultura é de aprender a língua do país seja do ponto de vista professional ou pessoal. Para isso, aconselho a você seguir um curso de língua francesa e passar um teste ou diploma de proficiência linguística. Os mais conhecidos e exigidos para ingressar na universidade na França são o TCF (teste de língua francesa válido por 2 anos) e o DELF ou DALF (diplomas de língua francesa válidos por toda vida)[1].

E aí, está pronto para zarpar?

Segue alguns testemunhos e dicas de brasileiras que vivem há muito tempo na Franca ou que já viveram por aqui e voltaram para o Brasil. Espero que esses conselhos possam te ajudar;)

 Sara B. de Tangara – SC - Profissão, socióloga Ocupação atual, dona de casa e pesquisadora.


A primeira  vez que me mudei  para a França foi em 2007, vim para estudar. Da segunda, em 2011, vim porque me casei.
O que mais amo na França são : a liberdade e a autonomia que o transporte público me proporciona. O que mais odeio é o clima nublado quase o ano inteiro em Paris e região.

Sinto falta do clima do Brasil. Mas, o que mais odeio em nosso país é a bagunça dos serviços prestados ao público e o caos da infra-estrutura (quando existe).

Acho que com o tempo,  morar na França  tem me deixado um pouco mais fechada, mais comedida e até pessimista, por conseqüência, levo uma vida menos alegre do que levava no Brasil.

Por enquanto estou sem planos para o futuro, não sei se fico ou se volto. Mas, por enquanto vou ficando !!!

DICA:  Em Paris, se vier com pouco tempo, não pode deixar de visitar o circuito tradicional: a Torre Eiffel, a Champs Elysées, o Museu d'Orsay, Montmartre, Notre Damme, Jardim de Luxemburgo, etc. Mas, se vier com bastante tempo e no verão, não pode deixar de passear pelas pontes e ruelas de Paris, fazendo nada, sem horário e sem programa, simplesmente descobrindo sua história. Recomendo também os museus "gratuitos" da Ville de Paris, como o Carnavalet, por exemplo.

Sou muito ligada ao século XIX, portanto o que mais aprecio como arte pertence à modernidade, como os impressionistas, os grandes escritores e poetas (Hugo, Balzac, Baudelaire), escultores, não saberia hierarquizar a lista. Quanto à contemporaneidade, esteticamente falando, ela não me atrai.

Uma expressão que gosto em francês? Não costumo usar expressões, mas acho "vachement" uma expressão engraçada!!!🐄

Mais uma DICA: ATENCAO!!!  Arme-se de muita paciência para enfrentar a burocracia francesa.

Isabela P. - Curitiba- Profissao : Advogada

Vim morar na França para fazer um mestrado de Direito Internacional e acabei fazendo doutorado também. Hoje vivo em Curitiba com meu marido e minhas filhas.
Amo Paris, os queijos franceses, as bibliotecas, as amizades que por aqui fiz, os cafés... Porém, detesto o cheiro de xixi no metrô.😵

O que mais amo no Brasil? Minha família, as praias. Mas, detesto o trânsito com seus mal educados e o fato de não existir transporte público decente e de eu ser obrigada a usar carro para quase tudo!

Morar na França me tornou mais forte e menos tímida,  aprendi a “gueuler” 😲para me impôr muitas vezes ao invés de aceitar as coisas passivamente. Fiquei mais exigente e menos tolerante...fiquei um pouco francesa eu acho...Não sei se isso é bom ou ruim!

Ficar ou partir, quais seus planos para o futuro? Moro no Brasil, mas gostaria de voltar a morar na França.

Lugares para visitar em Paris: Recomendo Montmartre durante a Fête des vendanges, o Quartier Latin, a Ile Saint-Louis  Saint-Louis, Saint Germain de Près que são “quartiers” muito charmosos.

Para mim, um artista que vale à pena descobrir ou redescobrir é o pintor Monet, visitando sua casa em Giverny.
Minhas expressão preferida en francês : “Ta geule”, risos!

DICA: Quem vier trabalhar ou estudar em Paris, não deve esperar arrumar um trabalho prestigioso, pois o mercado está difícil e e mais provável que trabalhe de garçom, babá coisas desse tipo...

Quanto aos estudos, as universidades são excelentes, o ritmo de estudo muito intenso, mas tudo isso e muito recompensante, definitivamente vale à pena!



Karine S.- Pedro Leopoldo-MG, Professora de esporte

Decidi morar na França para estudar e porque meu marido é Francês.

Amo a cozinha francesa, os monumentos, parques e a língua francesa. Odeio o inverno e o metrô.

Amo as pessoas no Brasil, a simplicidade da minha região, a mistura de cores de pele e claro, a cozinha. Odeio, como todos, os brasileiros a corrupção, a discriminação racial que, infelizmente, ainda existe.

Morar na França me ajudou a ter mais determinação. Hoje me sinto mais segura e confiante. Aprender a viver e se adaptar num outro país é um grande desafio.

Ficar ou partir, quais seus planos para o futuro ?
Apesar da saudade, por enquanto pretendo ficar na França. Tenho projetos profissionais e pessoais em curso, partir seria começar tudo de novo.

DICA: Cada cantinho em Paris vale à pena visitar. Adoro o quartier Latin, le Marais e subir as escadarias de Montmartre, vale a pena o esforço, a vista é maravilhosa.

Um artista francês que vale a pena descobrir ? René Lalique – joalheiro

Qual é sua expressão preferida em francês ? « Coûter un bras » = Muito caro

DICA para quem quer vir trabalhar ou estudar em Paris : Antes de sair do Brasil, organize ao máximo sua estadia. Procure se informar de como funciona o sistema universitário na França ou códigos do trabalho, aprenda o Francês, pesquise o máximo sobre o pais onde pretende morar. Fale com pessoas que já vivem no país, faça contatos antes de viajar assim sua adaptação vai ser mais fácil.

Tatiane A. - Belo Horizonte-MG, Assistante comercial exportação

Vim morar na França para estudar comércio internacional e ter um bom cv .

O que você mais ama e odeia na França ? Odeio : o mau humor, a falta de calor humano e o estresse parisiense. Eles estão sempre criticando e reclamando de tudo. Amo : culinária, cultura, educação, mentalidade intelectual, a segurança, vida cosmopolita (encontramos de tudo em Paris) e amo também a discrição e elegância das roupas francesas.

O que você mais ama e odeia no Brasil ? Corrupção, violência, falta de estrutura social, econômica, tranporte…sendo que não se trata de um país pobre, mas sim do dinheiro desviado. Não amo também a mentalidade em alguns aspectos ; machismo, consumismo, ostentação … Amo : o calor humano, otimismo, receptividade, culinária, música e o bom clima (sol). 

Em quê morar na França mudou na sua personalidade e na sua vida ? Minha visão do mundo, das pessoas. Eu passei a aceitar e a compreender melhor as diferenças culturais e religiosas, me tornando mais tolerante. Me tornei independente. 

Ficar ou partir, quais seus planos para o futuro ? Por instante ficar. Quem sabe voltar depois de alguns anos. Caso eu tenha filhos, gostaria que eles tivessem uma experiência no Brasil. Quais lugares para visitar em Paris ou outra cidade da França você aconselha aos leitores ? Em Paris como ponto turístico o Quai de la Seine. Recomendo o 9ème arrondissement, que não é tao turístico, mas vale a pena connehcer as numerosas « petites boutiques ». Um artista francês que vale a pena descobrir ? Sempre gostei de Charles Aznavour, mesmo antes de conhecer a França, sei que « ça fait vieillot » mas acho muito bonito.

Qual é sua expressão preferida em francês ? “Etre à côté de ses pompes” e “oh la vache!”🐮

Um conselho para quem quer vir trabalhar ou estudar em Paris ? Tirando a parte de estudar a língua, sugiro ter paciência e muita perseverança para aqueles que têm um objetivo a alcançar aqui.











[1] Para mais informações sobre como ingressar na universidade na França visite o site do governo francês: http://vosdroits.service-public.fr/particuliers/F2864.xhtml

11 de mar. de 2015

Desintoxicação digital

Segundo um estudo recente realizado na Inglaterra, 62% dos britânicos declararam insatisfeitos em relação ao tempo perdido utilizando seus celulares. Num outro estudo realizado em 2013, descrobriram algo interessante: passamos mais tempo vidrados na tela de nossos smartphones que olhando dentro dos olhos de nossos parceiros[1]. Claro que a tecnologia tem um lado bom : aproximar aqueles que estão longe, mas ela também aparta aqueles que estão perto de nós, inquietante não ?

O smartphone tornou-se uma espécie de implante, não desgrudamos dele para nada ! Quantos grupos de amigos não vejo sentados numa mesa todos concentrados em seus telefones, sem trocarem ao menos uma palavra ? Num futuro próximo, talvez até o sexo será virtual, orgamos serão vendidos em cabines individuais, como no filme Blade Runner, lembram ? Talvez nos transformaremos em mutantes metade robô metade seres-humanos. Quando vemos pessoas utilizando os famosos óculos Google (Google Glass) é a impressão que temos não ?
A  internet pode ser como uma droga para muitos utilizadores. Com efeito, um dos sinais nefastos do poder da internet sobre nós é a  dependência que ela pode causar. Em vários países já existem até clínicas de desintoxicação digital ou viagens turísticas que propõem um desconexão total[2] !
Se você ainda não chegou ao ponto de precisar ir para uma clínica, mas considera como eu que  seu tempo pode ser melhoradministrado, eis um aplicativo que vale à pena instalar em seu celular : Qualitytime. Graças à esse aplicativo, você pode se auto-policiar controlando o tempo que passa conectado nas redes sociais e, também programar pausas forçadas durante o dia para fazer outras atividades sem parar cada minuto para verificar seu telefone. Quem sabe olhar nos olhos infindos do seu amor, ler um livro ou um jornal de verdade , malhar sem fazer um selfie a cada 15 minutos ? Boa "digital detox" para vocês ;)



[1]http://www.courrierinternational.com/article/2015/03/10/cinq-astuces-pour-passer-moins-de-temps-sur-votre-telephone
[2] http://www.lefigaro.fr/vie-bureau/2014/05/21/09008-20140521ARTFIG00088-le-digital-detox-ou-comment-apprendre-a-debrancher-son-smartphone.php

2 de mar. de 2015

Um ligeiro esquecimento

Estou com a memória curta. Cada vez mais curta. Será que é por causa das novas tecnologias ? Entre uma conversa e outra, basta uma dúvida e  sacamos o smartphone da bolsa para buscar a reposta. Tabém não memoriso mais nenhum número de telefone.
Informações… chuva de informações. Leio algo hoje de manhã e logo, logo já esqueci.
Esqueço também as palavras... ah ! as palavras que sempre amei, que sempre cultivei como um jardim cheio de flores. Às vezes me supreendo com palavras tão eruditas, outras meu vocabulário fica pobre...fico muda ! Aquela letra de música que sempre escutei, sempre cantei, agora canto desafinado e desritmado…
E a História ? As datas importantes ? Vixi, piorou. Esse fim de semana me perguntaram aqui na França : « Em qual ano foi a independência do Brasil ? » « Putz ! Emburreci !- pensei ». Diante ao meu silêncio embaraçoso, disseram : « Deve ter sido no século 17 ». Eu só consegui responder : « Não. Foi bem mais tarde… » Chegando em casa fui verificar meu antigo livro de história : « Ah sim ! 7 de setembro de 1822 ! Como pude esquecer ? Perda de patriotismo ou alzheimer em fase avançada ? »

Também esqueço as coisas no fogo. Penso: «Um chazinho nesse frio faz bem» e lá vou eu esquentar água.  E cadê a água ? Evaporou! 
Resolvi jogar Sudoku para estimular minha atenção e memória e, quem sabe palavras cruzadas também ?Putz, já estou adotando os hobbies de velho... E além disso, onde arrumar tempo ? Tempo para fazer aquilo que DEVO fazer e pra aquilo o quê QUERO, realmente, fazer ? O tempo também está passando muito rápido ! Ah já entedi ! Devo estar sofrendo de templetônia aguda;)

7 de fev. de 2015

Em nome de Alá: atendado contra a liberdade de expressão

    A Europa tem sido alvo de vários atentados, dessa vez em Copenhague na Dinamarca, durante um seminário sobre o tema "Arte, Blasfêmia e liberdade" (Art, blasphème et liberté). Um dos participantes desse evento era o artista sueco  Lars Vilks, que publicou em 2007 uma caricatura de Maomé e, por isso já havia sido vítima de uma tentativa de assassinato. Outras pessoas conhecidas como a lider do movimento feminista Fémen estavam presentes nesse evento.

     A utilização de caricaturas de Maomé criam a indignação da comunidade muçulmana e a ira dos islamista radicais, pois a representação de qualquer ser vivo, principalmente do profeta é para essa um pecado. Certo  diversos estudiosos e historiadores defendem o fato de que no passado vários livros relatando a história do Islã retratavam a figura do profeta. Isso prova que foi ao longo dos anos que este dogma foi se instaurando no centro dessa prática religiosa. Muitos praticantes a respeitam e vêem como um desrespeito o ato de representar o profeta principalmente num contexto satírico. Uma amiga, mulsumana praticante me explicou que em sua religião  não  se deve adorar à ninguém além de Deus. Por isso, a representação de todos os seres vivos é proibida. Isso não a impede porém, como qualquer jovem de nossa geração, de utilizar no dia-à-dia um smart phone e publicar fotos dela e de amigos nas redes sociais.

    Esses tipos de atentados terroristas que ocorreram na França, na Dinamarca, na Bélgica, vão, infelizmente, se tornar cada vez mais frequentes. A dificuldade de prevenir esses crimes é que muitas vezes, esses terroristas agem como "lobos solitários", ou seja radicais que agem de forma isolada e , geralmente, imprevisível. 

    Portanto é devido à essa ameaça constante, à importância da liberdade de expressão e da democracia em nossas vidas, principalmente no ocidente, que decidi abordar esse tema. Inspirei-me de discussões com amigos por aqui na França , e também de tudo o quê tenho lido na imprensa francesa e internacional ao longo desses último meses. Boa leitura!

    Atentado contra a liberdade de expressão



    O atentado contra o jornal Charlie Hebdo teve o intuito de atingir um dos símbolos da República francesa : a liberdade de expressão. Porém, esse valor adquirido graças à Revolução francesa (1789) parece ser estimada por uma grande parte da população ocidental que saiu nas ruas para manifestar contra o assassinato dos caricaturistas.

    Como diz  o provérbio "minha liberdade vai até onde começa a sua" (em francês :"La liberté des uns s'arrête là oú commence celle des autres"). Por um lado, tal preceito nos leva à reflexão: até onde um jornalista pode ir com suas palavras? Eles  não deveriam ter limites? Não deveriam se auto-censurar quando escrevem? Por outro lado, porque não se pode criticar uma religião ou a forma como certos religiosos a praticam? Não seria importante ter a liberdade de praticar a auto-derisão exatamente para permitir a evolução de nossos valores e autoconsciência ? Por que não se pode dessacralizar o sagrado? 


    Talvez essas perguntas sejam somente feitas pelo mundo ocidental, devido à sua história.
    Desde o período medieval a sátira e a carnavalização foram utilizadas pela cultura popular como uma forma catártica, uma liberação. Durante esse evento os papéis eram invertidos e o espaço público era o palco da representação do rei ridicularizado pelo povo. O mundo era colocado as avessas. 

    Além disso, devido ao passado sórdido da Igreja (perseguição dos não católicos; condenação de pensadores que contradiziam os dogmas, etc) muitos ocidentais tendem hoje em dia a criticar os dogmas religiosos e a debaterem alguns valores da Igreja católica que são ultrapassados.


    Enfim, na França a separação do Estado e da Igreja existe há 110 anos. O intuito nacionalista é de unificar o povo, por isso o Estado substitui a Igrega, com seus valores e seus símbolos da republicanos (bandeira, imagem da Marianne, hino, etc).  Por um lado, essa estratégia política pode ser vista como uma manobra de assimilação. Por outro lado, um Estado laico permite à todos de terem o direito de praticarem suas religiões. Isso permite, teoricamente, a coexistência de todas as religiões e a igualdade entre todos os cidadãos independente de suas crenças.


    Porém, os valores laicos não são respeitados pelo partido de extrema direita, Front National, Esse partido ganhou a eleição em várias municipalidades, devido à decepção de muitos eleitores em relação aos partidos de esquerda e direita que não resolveram os problemas causados pela crise econômica. Os estrangeiros tornam-se assim bodes expiatórios. O discurso nacionalista da extrema direita recuso tudo o que não faz parte da história da França e de seu passado católico. Por falar nisso, durante o Natal ano passado, um prefeito de extrema direita causou muita polêmica ao decorar a prefeitura com um presérpio. Ora, a prefeitura representa o Estado e, por isso, deveria expôr nenhum símbolo religioso. 

    Depois dos atentados de Charlie Hebdo e do supermercado Cacher em janeiro 2015, o grafiteiro francês Combo decidiu se manifestar através da sua street art. Através da palavra coexistir (coexist) - escrita com o simbolo das três religiões monoteístas - ele quis trasmitir uma mensagem pacífica. Mas, enquanto pintava um muro em Paris, o artista foi agredido  por três jovens de extrema direita[1] 

    Esse ato de violência demonstra o risco da intolerância de uma parte da população francesa de extrema direita que expressa publicamente seu discurso xenófobo, principalmente em  relação aos muçulmanos. 

    O risco de estigmatização

    O perigo desse momento em que estamos vivendo é exatamente de uma resposta violenta de grupos de extrema direita. Por isso, é importante que as pessoas tenham mais discernimento para evitar a estigmatização  da comunidade mulsumana. Para isso, é preciso fazer a distinção entre Islã e Islamismo. 


    De um lado, o Islã, que em árabe significa "submissão à Deus", é uma religião monoteísta revelada pelo profeta Maomé através do Corão e que prega a paz e a boa conduta. Por outro lado, o Islamismo designa desde 1970 as correntes mais radicais que querem impôr não somente a religião muçulmana, mas também uma ideologia política regida pelas leis rigorosas da chária. 

    Portanto, fica claro que todo islamista é mulsumano, mas que nem todos os mulsumanos são islamistas. Os terroristas que matam e propagam o medo em nome de Alá, na verdade não conhecem a própria religião, que exalta a paz e não a violência. 


    Aliás,  com o intuito de evitar uma confusão entre a religião mulsumana e os radicais islamistas pertencentes aos grupos terroristas, o governo francês decidiu de não mais denominar o Estado Islâmico  (EI) dessa forma. Esse grupo é agora denominado como Daesh[2]

    Muitas vezes, a razão que leva vários jovens à se radicalizarem, tornando- se "Jihadistas" ou seja "soldados" que se sacrificam em nome de Deus (Alah) é a necessidade de criar uma identidade coletiva diferente da identidade nacional que lhe foram imposta pelo Estado francês. Esse conflito encontra-se no centro da problemática do homem contemporâneo, que possui uma identidade fragmentada. Como diz Sílvia no Santiago nossa época reflete o fenômeno do "Cosmopolitismo do pobre", ou seja aqueles que foram colonizados saem da margem para residirem no centro. 


    Esse é o caso da França, onde uma grande parte da população é originária de antigas colônias francesas como a Argélia, Marrocos, entre outros países africanos de maioria muçulmana. Uma grande parte dessas pessoas são a terceira geração da família a viver na França e são de nacionalidade francesa. Porém, sentem-se excluídos e, por isso buscam uma identidade perdida que os façam sentir especiais. A religião torna-se assim um elo entre essas pessoas e a cultura de seus antepassados. Portanto, abraçar uma causa seja talvez uma forma para esses jovens de darem sentido à suas vidas. Além disso, diversos jovens de origem 100% francesa, de classe média alta também acabaram se engajando no islamismo por outras razões, tais como problemas psicológicos, etc. Quanto mais vulneráveis são esses jovens, mais fácil fica de influência-los.


    Islamismo: a emergência de um facismo religioso


    A maioria das vítimas desses grupos terroristas não são ocidentais. Com efeito, as populações mais atingidas pela violência desses grupos estão localizadas no norte do Nigéria, na Síria e no Iraque. Além disso, as vítimas não são somente as minorias religiosas, mas também mulsumanos que não seguem as regras impostas pelos islamistas e praticam um Islã menos radical. Abaixo, um resumo dos principais grupos:

    - Al-Qaida é o grupo terrorista mais conhecido devido, principalmente, ao atendado das Torres gêmeas nos Estados Unido no dia 11 de setembro de 2001. Na época o grupo era dirigido por Osama Ben Laden que foi morto em 2011 no Paquistão durante uma operação secreta planificada pela CIA para capturá-lo. Atualmente, esse grupo está presente em diversas regiões: Norte da Africa, Caucaso, Península Arábica, etc (como demonstra a figura abaixo). Depois da morte de Ben Laden, Al-Qaida passou a ser dirigido por Nasser Al-Wuhayshi, fundador da Al-Quaida na Península Arábica chamada Aqpa. Contudo, esse grupo não detém mais o monopólio das regiões onde age devido à emergência de outros grupos rivais, entre eles o Estado Islâmico.

    - O Estado Islâmico ou Daesh foi criado em 2004 por Abou Bakr Al-Baghdadi, dissidente do grupo Al-Qaida em resposta à intervenção militar americana no Iraque. E se propagou pela Síria e, hoje assume uma oposição contra o governo de Bachar Al Assad. Além disso, esse grupo tornou-se um grande rival da Al-Qaida devido à sua rápida expansão pelos territórios vizinhos : Yémen, Afeganistão, Líbia, Egito, etc. Hoje esse grupo controla um território tão grande como a França. Para quem compreende o francês eu recomendo o documentario de Jérôme Fritel (France, 2014, 52mn) transmitido pelo canal franco-alemão Arte (http://info.arte.tv/fr/daech-naissance-dun-etat-terroriste). Trata-se de um Estado autoproclamado, mas que claro não é reconhecido pela comunidade internacional, essa é uma dessas razões pelas quais o governo francês decidiu  denominar esse grupo Daesh e não mais Estado Islâmico.


    - O grupo  islâmica Boko Haram domina o norte da Nigéria, espalhando o terror nessa região pobre do país. O revoltante é de saber que o Nigéria é um dos países mais ricos do continente africano, graças aos seus recursos minerais, principalmente as jazidas de petróleo localizadas no sul. Contudo, o governo fechou os olhos durante todo esse tempo, praticamente aceitando esse "Estado paralelo" dentro do seu território nacional. A palavra Boko Haram significa "o ensino ocidental é um pecado" e representa um dos principais alvos desse grupo: as crianças, principalmente de sexo feminino, escolarizadas. Quem não se lembra da campanha foi lançada nas redes contra o sequestro de várias meninas? Até a primeira dama dos Estados unidos  , Michele Obama, participou dessa manifestação transmitindo o slogan: "Bring back our girls".  Essas foram sequestradas para serem vendidas como escravas sexuais ou casadas à força! Sim, porque um dos principais recursos financeiros dessa seita  é o tráfico de seres humanos. 













2 de jan. de 2015

Presente de natal : super poderes

Acordei querendo fazer mil coisas ao mesmo tempo: malhar, arrumar a casa, ler, assistir algo na televisão, escrever... Impossível de fazer tudo, impossível...

Resolvi me render à vontade de escrever, mas sobre o quê? Quem vai ler? Nesse oceano infindo que é a internet alguém acabará encontrando essa garrafa que lancei no oceano sem destino...

Ah! fim de ano é assim, ficamos nostálgicos, inspirados, temos vontade de falar sobre o passado, mas também sobre o futuro. Sobre nossas boas resoluções. Queremos nos superar, inventar uma versão melhor de nós mesmos. E nessa sociedade voltada à aparência e ao perfeccionismo, acabamos sendo muito exigentes.

 O filme Lucy do cineasta francês,  Luc Besson, diretor de filmes cults como Nikita e Leon aborda essa busca do ser humano pelo desenvolvimento de sua capacidade intelectual através dos estudos do personagem de Morgan Freeman. Suas pesquisas demonstram que se o homem atingisse 100% de sua performance intelectual, teria poderes de controlar seu próprio organismo, etc.

A personagem principal é a voluptuosa e hipnotisante, Scarlet Johanson que interpreta uma jovem americana obrigada por uma banda de mafiosos coreanos a transportar uma nova droga para os Estados Unidos . Após terem implantado a droga no seu ventre alguns guardas a agridem dando golpes em sua barriga. Devido aos golpes o pacote de droga se rompe e entra no organismo da jovem. Mas, ao invés de sofrer uma overdose, Lucy adquire super poderes. Essa substância sintética permite a ela de desenvolver, progressivamente, sua inteligência até chegar a 100% de sua performance intelectual. Isso corrobora com os estudos do cientista interpretado pelo ator,  Morgan Freeman que estuda a capacidade do ser humano e a evolução de nossa espécie.  Lucy se torna assim capaz de dominar seu próprio cérebro e adquire uma forte percepção do mundo à sua volta e de seu próprio organismo. Por exemplo, ela passa a auto-regular seu próprio metabolismo e pode também controlar todas as formas de redes de telecomunicação. Enfim, ao aplicar uma dose elevada da droga ela adquire  o poder supremo  de controlar o tempo e de desmaterializar-se.

Eis, onde queria chegar, o personagem pode controlar seu próprio organismo, medir seus obtjetivos, se auto superar e torna-se mestre do tempo. Não é  este um tema pós contemporâneo? Não é exatamente o contrôle do tempo que obssesiona o ser humano? Em busca da vida e da juventude eterna.

No Natal, ganhei do meu marido um smart relógio que se conecta ao meu telefone e que também pode controlar minhas horas de sono, as calorias que gasto. Esse relógio tem o objetivo de me deixar conectada o tempo todo com o mundo interno e externo. Mas, estou longe de me tornar a super mulher do filme.  Principalmente, porque não consigo ainda nem dominar todo o manual de uso do relógio, imagina então poder auto-regular meu próprio organismo?

Ainda bem que me resta a imaginação...

Junto ao presente veio um cartão com uma imagem de uma flor de Lotus. Achei o paradoxo interessante: de um lado o relógio ultramoderno que controla o tempo e permite ao homem de medir suas atividades físicas e fisiológicas. Do outro lado, a imagem da flor de lótus que no livro de Homero Odisséia é o alimento da população de Lotófagos, seres que se alimentam de lotus e,por isso se perdem no tempo e no espaço.

Não comi a flor de lótus, mas senti que estava num estado letárgico. Fim de ano tem esse efeito em mim. Talvez porque seja necessário esquecer para recomeçar,evacuar a energia para poder renová - la, ensaiar uma nova vida, um ano novo melhor.

É o que desejo à todos vocês um 2015 que supere 2014 e assim por diante.