O quê eu gosto nesse seriado, não são só os figurinos dessa década, mas também o ambiente melancólico, os conflitos existencialistas dos personagens e a evolução da mentalidade dessa sociedade em plena transição entre o pós-guerra (Segunda Guerra Mondial, Vietnam, etc) e a sociedade de consumo.
Ao longo dos episódios vamos descobrindo como essa sociedade foi evoluindo, reconstruindo seus valores em relação às mulheres, aos negros, aos jovens; às necessidades de consumo das pessoas e a concepção da família nessa época.
Don Draper chama-se na verdade Richard "Dick" Whitman. Ele é um desertor da guerra da Coréia (1950-1953) que rouba a identidade de seu tenente (o verdadeiro Don Draper), morto durante um ataque. Desde então, o protagonista vive perseguido pelos seus fantasmas do passado. Apesar de ter tornado-se um publicitário bem-sucedido, Don vive uma vida melancólica e parece em busca contínua do intangível. Sua vida é feita de excessos : sexo, cigarros, álcool, drogas...
Ora, através de uma análise psico-crítica, pode-se dizer que esses excessos cometidos pelo personagem representam a pulsão de vida/morte do homem moderno afetado por guerras e transformações, tais como o descobrimento de drogas sintéticas, idéias liberais e/ou libertinas, além de eventos inimagináveis para a sociedade da época (por exemplo, a primeira viagem do homem à Lua!).
Em termos podemos dizer que a sociedade retratada no seriado parece com a sociedade contemporânea. Primeiramente, porque a precedemos e o que somos hoje é a conseqüência do que nossos antepassados construiram ontem. Claro, comparando com os anos 1960, a sociedade atual fez muitos progressos, tais como uma maior autonomia e integração profissional da mulher em áreas antes dominadas pelos homens. Entretanto, hoje o modelo socio-econômico liberal que adotamos parece em crise e em plena transição. Mas, ainda não sabemos para onde vamos.
Hoje sinto que as pessoas, principalmente os jovens na Europa, afetados pela crise econômica, sentem-se desiludidos pelo nosso sistema e estão em busca de um novo modelo social e econômico. A precariedade da maioria dos jovens de hoje é incontestável, principalmente se compararmos com os tempos gloriosos ("Trente Glorieuses", entre os anos 1945 e 1973) período de grande crescimento econômico na França e em outros país da Europa.
Assistindo Mad Men penso que nossa sociedade parece viver a crise atual com menos glamour do que a sociedade dos anos 1960 e com menos perspectiva. Num tom nostálgico, termino essas linhas defendendo a idéia de que é preciso viver esses tempos de "décadence avec élégance", como cantava Lobão.
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